quarta-feira, 29 de abril de 2009

Cigana Rosa dos Ventos

Não foi por acaso que o meu sangue que veio do Sul se cruzou com o meu sangue que veio do Norte.

Não foi por acaso que o meu sangue que veio do Oriente se cruzou com o meu sangue que veio do Ocidente.

Não foi por acaso nada de quem sou agora.
Em mim se cruzaram finalmente todos os lados da terra.

A Natureza e o Tempo me valeram:
séculos e séculos ansiosos por este resultado
um dia e até hoje fui sempre futuro.

Faço hoje a cidade do Antigo
e agora nasço novo como ao Princípio:
foi a Natureza que me guardou
a semente apesar das épocas e gerações.
Faço hoje a cidade do Antigo
e agora nasço novo como ao Princípio:
foi a Natureza que me guardou
a semente apesar das épocas e gerações.

Cheguei ao fim do fio da continuidade
e agora sou o que até ao fim fui desejo:
o Centro do Mundo já não é o meio da terra
vai por onde anda a Rosa dos Ventos
vai por onde ela vai anda por onde ela anda.

Agora chego a cada instante pela primeira vez
à vida já não sou um caso pessoal
mas sim a própria pessoa.

Texto de José de Almada Negreiros

Tela de Maria do Carmo da Hora